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Praça Cívica

A Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira ou Praça Cívica, como é mais conhecida, faz parte do projeto original da cidade de Goiânia, feito pelo urbanista Attilio Corrêa Lima, quando da inauguração da cidade na década de 1930. Segundo o IPHAN (2010), a praça “é considerada o principal elemento do traçado urbano de Goiânia”. No mapa abaixo é possível observar a localização da praça no perímetro do Setor Central:

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A praça é o ponto central do desenho radiocêntrico proposto por Correia Lima: dela irradiam três grandes avenidas – Araguaia, Goiás e Tocantins. Nas duas imagens abaixo podemos notar os eixos formados pelas avenidas iniciados a partir da praça, presentes tanto no croqui feito por Attilio e na fotografia datada de 1937:

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Segundo Diniz (2007), além do caráter estético, o projeto da praça também simbolizava o centro do poder da nova capital, bem como o centro do poder do Estado, sendo, portanto, um símbolo do interventor Pedro Ludovico Teixeira e do presidente Getúlio Vargas, ambos representados na figura do Bandeirante. O projeto original de Goiânia passou por diversas alterações até a inauguração da cidade, o que não foi diferente na Praça CívicaApós a saída de Corrêa Lima, foram propostas modificações pela firma Coimbra & Bueno, em 1935.

Nos anos seguintes a praça passou por diversas modificações em seu espaço físico, bem como por diferentes usos oficiais e formas de apropriação. Segundo Santos (2020), na década de 1960, a praça ficou marcada pela construção do Centro Administrativo e pelo Monumento às Três Raças. Já entre as décadas de 1970 e 1980, a Praça Cívica passou a receber a Feira Hippie. A feira aconteceu na praça até o final da década 1980, quando foi transferida para a Avenida Goiás; segundo a entrevistada Cristina Helou, à época a feira tinha um caráter popular e artesanal. 

 

Posteriormente, nos anos 2000, a feira foi transferida para a Praça do Trabalhador e lá segue atualmente, como discutiremos a respeito no tópico específico sobre esta praça. Nas décadas de 1990 a 2000 a Praça Cívica passou a ser ocupada por carros e sendo utilizada como estacionamento, sobretudo por usuários dos prédios públicos que funcionavam no local.

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Em 2003, o conjunto da Praça Cívica foi tombado como patrimônio pelo IPHAN, por meio da Portaria nº 507 de 18 de novembro de 2003. O tombamento incluía, além do traçado do núcleo pioneiro, vinte e dois bens entre edifícios institucionais e mobiliários urbanos, sendo doze deles no intitulado “Conjunto da Praça Cívica”. 

Destarte, na década 2010, começam a surgir debates sobre uma revitalização do espaço e, principalmente sobre a proibição de circulação e estacionamento de carros no local. Em 2012, por exemplo, o governo estadual anunciou um projeto de revitalização para a Praça Cívica, em uma proposta que já incluía a retirada dos estacionamentos. Porém, apenas em 2015 o projeto de requalificação da Praça Cívica se efetivou, por meio de uma ação da prefeitura municipal e através da captação de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-Cidades Históricas). O projeto foi elaborado pelo escritório de arquitetura GRUPOQUATRO, sob responsabilidade técnica do arquiteto e urbanista Fernado Cruvinel Teixeira, resgatando a proposta feita na década de 1990 pelo mesmo grupo para o PROJETO GOIÂNIA 21 – Operação Centro.

As obras foram iniciadas em fevereiro de 2015 e a inauguração do espaço revitalizado aconteceu em duas etapas – a primeira em agosto de 2015 e a segunda em agosto de 2016. Porém, percebe-se que apesar da ideia principal do projeto ser “devolver a praça aos pedestres”, a execução da obra não atendeu aos requisitos de acessibilidade, apresentando defeitos antes mesmo da finalização da obra. Outro exemplo são as fontes luminosas: no projeto eram previstas fontes d’água, todavia por não serem viáveis financeiramente, foram substituídas por fontes secas. De mesmo modo, os prédios existentes não acessíveis e não foram criadas atividades que convidem os usuários a se apropriarem da praça de maneira orgânica.  

 

Após a inauguração, em 2017 o governo estadual em conjunto com o IPHAN divulgou a proposta de criação do “Circuito Cultural Praça Cívica Dr. Pedro Ludovico Teixeira”), que previa a restauração e a requalificação dos prédios existentes e a construção de novos espaços, assim como diversas atividades, como feiras, exposições e práticas educativas. Porém, até o presente momento (2022) a proposta não foi realizada, de fato. 

 

No ano seguinte, por meio do Decreto nº 2.325 de 13 de novembro de 2018, a Prefeitura restringiu a realização de eventos na praça em intervalos de cento e vinte dias, mediante aprovação prévia da municipalidade e do IPHAN. Nesse período, os eventos que aconteceram na praça se resumiram aos realizados pela prefeitura municipal (Natal Na Praça e Réveillon Na Praça).

Todavia, a sociedade não participou desses processos: as propostas foram apresentadas já de forma consolidada pela administração pública, do mesmo modo que não consultaram os moradores e frequentadores do bairro sobre quais atividades poderiam ser desenvolvidas no novo espaço. Ademais, como concluído a partir de pesquisas anteriores, a falta de manutenção do espaço físico nos anos seguintes, as poucas propostas de atividades culturais que incentivem o uso da praça contribuíram para o abandono e apagamento desse espaço dentro da cidade.

Em 2019, apenas três anos depois, o governo estadual anunciou uma nova revitalização da praça. No mesmo ano, uma reportagem do jornal O Popular denunciava que, mesmo após a requalificação, o espaço continuava a ser utilizada como estacionamento. Recentemente, em julho de 2021, a praça foi interditada novamente para as obras do BRT, com previsão de execução de 75 dias. Para a análises propostas nesta pesquisa foi realizada uma visita in loco em janeiro de 2023, quando foi constatado que as obras ainda não foram finalizadas e a praça segue com espaços danificados e com entulhos de obra

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Nesse sentido, a pesquisa demonstra que, no caso da Praça Cívica os diversos projetos e propostas de revitalização/requalificação trouxeram melhorias do ponto de vista de infraestrutura e arquitetônico para os espaços, mas que atualmente estão danificados pela falta de manutenção e pelas obras do BRT. Todavia, como visto neste e nos demais estudos de casos, os projetos seguem tratando o bairro de forma pontual, desenvolvendo ações focais e que não integram os espaços com os usuários, tampouco o Setor Central com o restante da cidade – seja pela pouca criação de atrativos urbanos, como habitações coletivas, modais de transporte acessível e novos espaços; ou ainda pela inexistência de uma agenda cultural no bairro, proposta em diversas oportunidades pelo poder público, porém nunca efetivada de fato.

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Referências bibliográficas

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